quinta-feira, 6 de maio de 2010

a caixa verde.

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ela precisava encontrar o tal papel, como nunca foi muito organizada, era preciso revirar o quarto todo, começando pelas caixas coloridas que ficavam na parte de cima do guarda-roupa. subiu em um banco e na pressa colocou uma caixa por cima da outra. sim, ela perdeu o equilíbrio e deixou as caixas virem ao chão.

no meio das caixas, tinha uma que ela evitava ao máximo de chegar perto, a caixa verde - onde ela guardava as cartas/flores/bilhetes/fotos/ingressos/chaveiros/rascunhos do André.
quando percebeu que a caixa verde estava aberta, sentiu o sangue congelar e o coração pulsar nas pontas dos dedos. ficou em pé e olhando. sem se mexer, sem pensar e (quase) sem respirar. parecia que estava olhando pra um fantasma, tudo bem, aquela caixa não deixava de ser um - pelo menos pra ela.
a última vez que ela tinha olhado as lembranças daquela caixa, foi quando começou a namorar com Arthur. prometeu pra si própria que não iria se machucar e nem machucar alguém com aquelas coisas, sabia que era necessário abrir mão delas, mas descartou qualquer possibilidade de jogá-las fora.
a caixa era verde, porque verde era a cor favorita de André.
não tinha jeito, era preciso arrumar as coisas, afinal, ela não poderia deixar tudo espalhado pelo chão.

era impossível olhar uma foto e não sentir algo, nem que fosse só um frio na espinha. era impossível pegar uma carta e não lê. era impossível não olhar para um ingresso e pensar que tinha sido o melhor filme/show/teatro/apresentação. era impossível apagar o passado.

mal sabia ela que aquilo era apenas um aviso do que estava por vir (...)