domingo, 3 de janeiro de 2010

what a catch.

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ela se sentou na sala e tentou se lembrar do momento em que tudo mudou. fechou os olhos e pensou. tentou lembrar de todos os detalhes da noite passada, mas a única lembrança latente era dele saindo pela porta.
ele levou as roupas e a caneca que fazia par com a dela. pelo menos foi isso que achou, mas estava enganado. ele levava junto um pedaço dela, um pedaço deles.
ela não derramou uma lágrima se quer, já ele chorava sem parar e sem parar também eram as palavras duras e cruéis que saíam da boca dele. uma mistura de ira com arrependimento.
não poderia ser verdade. ela não conseguia acreditar que o seu relacionamento tinha chegado naquele ponto. até dois dias antes, estava tudo bem, ou pelo menos era essa a aparência que eles passavam um ao outro e até mesmo para os amigos.
a última palavra que ele disse, era isso que ela queria lembrar. era disso que ela precisava lembrar, mas não conseguia. tinha passado a noite em claro, olhando a primeira foto que havia tirado com ele. sua mente estava bloqueada.
se levantou e foi até a cozinha. pegou a caneca e olhou, vendo que faltava uma parte que a completava, a lançou contra a parede. um falso e seco sorriso se estampou no seu rosto. ela queria chorar, sentia que isso era necessário. mas não conseguia.
pensou em voltar para o sofá, mas antes disso se lançou na escada. lugar onde eles costumavam conversar e contar sobre os acontecimentos do dia.
foi quando uma lembrança veio em sua mente: do dia que ele havia chegado mais cedo e sentado lá pra esperá-la chegar do trabalho, quando chegou o encontrou com um sorriso triste. ela se sentou e sem perguntar nada o abraçou, dizendo que tudo ficaria bem. ele contou que havia sido demitido. passaram a noite no terceiro degrau da escada. no silêncio e abraçados.
ela não acreditava que o seu menino havia saído de casa. era duro pra ela aceitar a situação.
ele se encontrava do outro lado da rua. sentado na calçada do vizinho, olhando pra janela. numa vã esperança da cortina se abrir. enquanto ela permanecia seca de lágrimas, ele lavava a calçada e os seus soluços eram ouvidos da esquina. segurando a caneca e tentando responder a maldita pergunta: como isso aconteceu?! o sol já estava no alto céu, os vizinhos já estavam saindo pra trabalhar e ele continuava feito uma estátua na calçada. não sentia vontade de sair dali, queria esperar a hora dela ir para o trabalho.
mas isso não aconteceu.
ela se levantou da escada e foi em direção a janela. mesmo sem vontade de ir trabalhar, queria ao menos olhar o sol e acreditar que tudo ficaria bem. levantou a cortina e quando olhou, um caminhão de sorvete estava passando.

# dance, dance, nós estamos caindo na metade do tempo.