terça-feira, 2 de março de 2010

pipoca/água/bolo/café


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a noite foi ótima, mas a melhor parte, para joana, foi acordar e vê-lo ali do seu lado. dormindo que nem criança, segurando a sua mão. ela não se lembra muito dos acontecimentos, pra dizer a verdade, a única lembrança que ela tem, foi de ter o encontrado na esquina da praça, comendo pipoca doce e olhando as pessoas apressadas.
ele parecia precisar de ajuda, de um alguém. só que joana também precisava de um alguém. sabendo disso, se achegou até o estranho tatuado. se sentou do lado dele e lhe ofereceu uma garrafa de água.
- pipoca doce dá sede.
ele pegou a garrafa e bebeu a água com uma vontade, que mais parecia um camelo. ele bebeu a água e nada disse. ela não se incomodou, estava precisando de companhia e de um jeito estranho sabia que aquele moço seria sua melhor companhia naquele fim de tarde congelante.
ele estendeu o pacote de pipoca e disse:
- frio dá fome.
ficaram ali, em silêncio. comendo pipoca, tomando água e olhando as pessoas apressadas.
as horas foram se passando e aos poucos a quantidade de pessoas na rua foi diminuindo. diminuindo ao ponto de só se ver uma ou outra.
ela se levantou. estava começando a ficar com frio. olhou pra ele e disse:
- cansei de água e a pipoca acabou. vamos tomar um café e comer um bolo?! afinal, você mesmo disse que o frio dá fome.
- eu sei fazer bolo.
ele se levantou e passou a mão sobre os ombros dela, ele percebeu que ela estava com frio. caminharam até o outro lado da praça, onde ficava o apartamento dela.
quando entraram, ela jogou a chave em cima do sofá e foi pra cozinha. ele foi atrás.
- você sempre traz estranhos para sua casa?! - ele perguntou.
- só quando estou carente - ela respondeu de um jeito sincero.
- cadê as coisas para o bolo?!
- pega ali no armário. eu vou tomar um banho, quando o bolo estiver quase pronto eu faço o café.
ela, sem se importar com o estranho moço tatuado em sua casa, foi tomar um banho bem quente, sem nenhuma pressa. terminou o banho e colocou um casaco.
voltou para a cozinha com uma toalha na mão.
- fica no fim do corredor.
ele pegou a toalha e foi tomar banho. assim como ela, ele não tinha pressa.
quando ele chegou na cozinha, ela já estava passando o café. ao sentir aquele aroma, ele sorriu e disse:
- café me lembra a minha mãe.
já era possível sentir o cheiro do bolo de fubá.
ele tirou o bolo do forno e ela colocou as canecas na mesa. se sentaram e conversaram. ele estendeu a mão e percebeu que ela estava quente demais. ficou preocupado, pois cada vez mais ela falava devagar. parecia que iria se desmanchar na frente dele, mas antes dela cair da cadeira, ele a pegou no colo. a levou pra cama e na hora que estava se levantando, ela segurou sua mão.
- só por uma noite.
ele soltou a mão dela e saiu do quarto.
foi até a cozinha, limpou e guardou tudo. trancou a porta e fechou as janelas. voltou até o quarto, abriu o guarda-roupa e pegou um cobertor. jogou por cima dela e depois se deitou do seu lado. pegou na mão dela.
- só por uma noite.
quando ela acordou, não acreditou que ele ainda estava lá. mesmo sem acreditar, ela voltou a fechar os olhos e sem soltar a mão dele, dormiu novamente.

# espero me perder de mim mesma de uma vez.